Último dia em Cuba (e um breve resumo filosófico)

Acordamos em: Havana
Dormimos em: Havana

Sempre nosso último dia em alguma viagem é um pouco triste. Especialmente em Cuba, porque acabei voltando com mais indagações do que respostas (claro que eu vim para cá com muitas perguntas a serem respondidas… quem não viria?). Entendi que eles sofrem muito com a pobreza, mas como explicar a vitalidade e bom humor de praticamente todos os cubanos com quem conversamos? Entendi que o sistema político é altamente vigilante impedindo todos de exercer sua liberdade de pensamento e que há muitas críticas feitas pelos próprios cubanos, mas como explicar o brilho nos olhos de outros quando falam de Fidel Castro – e do Che Guevara, então? Entendi também que o salário mínimo é extremamente baixo e viver com ele é mais que um malabarismo (e olha que a gente acha o salário no Brasil baixo…), mas como explicar uma taxa de criminalidade baixíssima e a sensação de segurança que sentimos em todos os lugares que vamos?

 

Cuba é um país de paradoxos. Enquanto sobram propagandas políticas em outdoors, grafitis e fachadas de prédios públicos faltam alimentos em quase todos os mercados e armazéns. Enquanto ninguém praticamente acessa a internet, a música e o convívio social parecem suplantar (e como!) a interação entre as pessoas.
E é assim, infelizmente (ou felizmente) que vamos deixar Cuba. Sentiremos saudades daqui, ao mesmo tempo que já clamamos por tudo que o capitalismo pode trazer de bom – desde uma cama boa para dormir até um supermercado com produtos decentes para consumirmos. Queremos voltar a nos conectar a todo tipo de tecnologia, mas ao mesmo tempo vamos sentir falta dessa tranquilidade que para nós foi esquecida lá pelos anos 90… ou antes.
E por mais que não tenhamos respostas concretas ao que estávamos buscando quando desembarcamos em Havana há alguns dias, uma coisa ficou mais do que clara: de um jeito ou de outro as pessoas aqui vão achando as saídas, os caminhos, vivendo e sobrevivendo. Por mais críticas que tenhamos a um sistema ditatorial que se considera socialista, Cuba vai muito além disso, e vir pra cá mostra que aqui não se trata apenas de uma disputa política entre direita e esquerda, capitalismo e socialismo, avanço e atraso. E é triste ver que, qualquer conversa que mencione Cuba irá necessariamente descambar para um discurso político carregado de julgamentos, ao invés de simplesmente despertar o interesse nas pessoas em vir para cá descobrir com seus próprios olhos o que é realmente esse país.
Mas deixando de lado esse resumo filosófico, nosso último dia foi uma maratona a pé. Calculamos quase 10km caminhados durante o dia, dessa vez em Vedado e Malecón.

Tomamos um café agradabilíssimo com uma família de dinamarqueses que também se hospedaram essa noite aqui também. Tinham feito o roteiro parecido com o nosso e a mãe já alertava a filha de uns 3 anos (que não parava de brincar com a Mari) que ao voltarem lá para Dinamarca ela não ia mais conseguir fazer o charme que ela obteve aqui com seus cabelos loiros quase brancos e olhos azuis que muito chamavam atenção. Uma coisa ruim para eles – em Cuba praticamente não se fala inglês e eles não conseguiram muito se comunicar com quase ninguém por aqui (a não ser aqueles que estavam no circuito turístico). Terminamos nosso café delicioso, nos despedimos e partimos para nossa grande caminhada.

Café da Manhã
Por onde passamos hoje:

Cemitério Colón (que decidimos não pagar para a visitação), Plaza de la Revolucion (que é onde Fidel se dirige aos milhões de cubanos todos os anos), biblioteca nacional (que não nos deixaram entrar – o que achei bizarro, por se tratar de uma biblioteca pública), museu postal (mais um dos inúmeros museus de Havana), Universidade de la Habana (especialmente no prédio do Direito em que quase conseguimos assistir a uma aula da pós graduação e vi que o currículo é praticamente idêntico ao nosso), Callejón de Hames, uma rua que é um reduto da Rumba e da Santería (indicação dos dinamarqueses, mas achamos um pouco turístico demais), Hotel Nacional (que junto com Habana Vieja também é patrimônio histórico da humanidade pela Unesco, e que também já perdeu todo seu glamour que um dia pareceu possuir) e por fim andamos por uma longa parte do Malecón jogando conversa fora.

Cemitério Colón
Plaza de La Revolución
Volta às aulas: Universidade de La Habana
Santería e Rumba
Hotel Nacional

No meio disso tudo almoçamos em um restaurante bem gostoso (el presidente) que descobrimos perto de uma região de hospitais universitários. E depois disso tudo, fomos dar mais uma volta em Habana Vieja, compramos uns chocalhos de salsa e uns pins de souvenir e sentamos em mais um barzinho com salsa ao vivo para comer uma pizza e tomar um mojito. Toquei ainda um reggae com um cubano que me humilhou com sua voz de Bob Marley.

Esperando o almoço
Fim do dia. Fim da nossa trip em Cuba.
Com isso vimos boa parte do que há para ver em Havana – porque se quiséssemos ver tudo o que há para ver em Havana (e nem queremos!), levaríamos acho que alguns meses… e olha que a cidade não é tão grande assim.

 

Amanhã partimos cedo, pouco depois das 7 da manhã para o Panamá, onde vamos ficar mais 3 dias antes de voltarmos para o Brasil no finzinho do carnaval.

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